Batismo: um sinal para os que creem. (Uma defesa credobatista, a inconsistência do pedobatismo e a fidelidade à doutrina dos apóstolos)

Batismo: um sinal para os que creem. 

Uma defesa credobatista, a incoerência do pedobatismo e a fidelidade à doutrina dos apóstolos

Introdução

Se o Novo Testamento é nossa regra de fé e prática, então a igreja deve submeter suas ordenanças ao padrão explícito dos apóstolos. O pedobatismo carece de duas coisas que, juntas, tornam sua defesa incoerente dentro de uma teologia que afirma a suficiência bíblica:  

1. Não há autorização normativa apostólica para batizar bebês.  

2. Não há um único exemplo inequívoco de batismo infantil nas Escrituras.  

Em contraste, o credobatismo repousa sobre a “doutrina dos apóstolos” (Atos 2:42) e sobre a prática apostólica: ouvir a Palavra, arrepender-se, crer e então ser batizado. A própria vida da igreja nascente se organizava sob esse vetor: “perseveravam no ensino dos apóstolos” — e a sequência de Atos 2 mostra pregação, fé, batismo e vida comunitária, não um rito aplicado a infantes sem profissão de fé.

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O padrão apostólico: ouvir, crer e ser batizado

O Novo Testamento apresenta uma ordem estável:  

- Atos 2:38-41 — “Disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe: isto é, para quantos o Senhor nosso Deus chamar. Com muitas outras palavras deu testemunho e exortava-os, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa. Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados; havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas.”  

  — metanoēsate (μετανοήσατε) “mudar de mente, arrepender-se” e baptisthētō (βαπτισθήτω) “ser imerso, batizado” indicam ação consciente e voluntária.

- Atos 8:12 — “Quando, porém, deram crédito a Filipe, que os evangelizava a respeito do reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, iam sendo batizados, tanto homens como mulheres.”  

  — episteusan (ἐπίστευσαν) “crer, confiar” precede ebaptizonto (ἐβαπτίζοντο) “foram batizados”.

- Atos 18:8 — “Mas Crispo, o principal da sinagoga, creu no Senhor com toda a sua casa; também muitos dos coríntios, ouvindo, criam e eram batizados.”  

  — akouontes (ἀκούοντες) “ouvindo com atenção” → episteuon (ἐπίστευον) “criam” → ebaptizonto “eram batizados”.

A igreja apostólica é descrita como perseverando “no ensino dos apóstolos” (Atos 2:42), com conversões que resultam em batismo e integração à comunidade.

> Direto ao ponto: o batismo, no NT, sela e visibiliza uma fé já presente, não antecipa uma fé futura.

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A incoerência do pedobatismo à luz da doutrina dos apóstolos

- Não há mandamento apostólico para batizar bebês.  

- Não há caso inequívoco de um bebê sendo batizado no NT.  

- Onde a Escritura silencia normativamente, impor uma prática eclesial como se fosse apostólica rompe a coerência com o “perseverar no ensino dos apóstolos” (Atos 2:42).

Conclusão lógica: defender o pedobatismo como prática apostólica é incoerente quando faltam tanto preceito explícito quanto exemplo inequívoco.

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Exegese dos textos frequentemente usados para sustentar o pedobatismo

Gênesis 17:7-14 — aliança com Abraão e circuncisão

“Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência depois de ti, nas suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência depois de ti. Dar-te-ei a ti e à tua descendência depois de ti a terra das tuas peregrinações, toda a terra de Canaã, em possessão perpétua; e serei o seu Deus. Disse mais Deus a Abraão: guardarás a minha aliança, tu e a tua descendência depois de ti, nas suas gerações. Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós e a tua descendência depois de ti: todo macho entre vós será circuncidado. Circuncidareis a carne do vosso prepúcio; e isto será por sinal de aliança entre mim e vós. O que tem oito dias será circuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações, tanto o nascido em casa como o comprado por dinheiro a qualquer estrangeiro que não for da tua descendência. Com efeito, será circuncidado o nascido em tua casa e o comprado por teu dinheiro; e estará a minha aliança na vossa carne por aliança perpétua. O incircunciso, que não for circuncidado na carne do prepúcio, essa alma será eliminada do seu povo; quebrou a minha aliança.”  

berit (בְּרִית) “aliança”, owth (אוֹת) “sinal”, mul (מוּל) “circuncidar” indicam pacto visível e físico.  

Refutação credobatista: a Nova Aliança é constituída por regenerados (Jeremias 31:31-34; Hebreus 8:8-12), e sua membresia é marcada pela fé, não pelo nascimento físico.

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Atos 2:37-39 — “compungiu-se o coração… arrependei-vos cada um de vós… a promessa é para vós e para vossos filhos”

“Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos? Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe: isto é, para quantos o Senhor nosso Deus chamar.”  

Katenugēsan (κατενύγησαν) — “compungiram-se”; metanoēsate (μετανοήσατε) — “arrependei-vos”; hekastos (ἕκαστος) — “cada um”; epangelia (ἐπαγγελία) — “promessa”; tekna (τέκνα) — “filhos”; proskalesētai (προσκαλέσηται) — “chamar”.

Observação exegética:  

A “promessa para vossos filhos” está gramatical e logicamente vinculada à reação de “compungir-se o coração” e ao imperativo “arrependei-vos” dirigido a “cada um de vós”. Ou seja, a promessa se aplica a todos — inclusive aos filhos — na medida em que cada indivíduo se arrepende e crê. O “cada um” (hekastos) impede uma aplicação automática sem resposta pessoal.

Refutação credobatista:  

O contexto impede interpretar “a promessa é para vossos filhos” como autorização para batizar infantes indiscriminadamente. Filhos e “os que estão longe” entram na promessa pelo mesmo caminho: ouvir, ser compungido, arrepender-se e crer — e então ser batizado.

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Atos 16:31-34 — batismo “de toda a casa”

“Responderam-lhe: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e a tua casa. E lhe pregaram a palavra de Deus, e a todos os que estavam em sua casa. Naquela mesma hora da noite, cuidando deles, lavou-lhes os vergões dos açoites e, logo a seguir, foi ele batizado, e todos os seus. Então, levando-os para a sua própria casa, lhes pôs a mesa; e, com todos os seus, manifestava grande alegria, por terem crido em Deus.”  

oikos (οἶκος) “casa, família”, lalēsantes (λαλήσαντες) “falando”, pisteō (πιστεύω) “crer”.  

Refutação credobatista: todos ouviram e creram antes de serem batizados, o que mantém o padrão apostólico: ouvir → crer → batizar.

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Colossenses 2:11-12 — circuncisão e batismo

“Nele também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, no despojar do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo, tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos.”  

peritomē (περιτομή) “circuncisão”, acheiropoiētos (ἀχειροποίητος) “não feita por mãos”, syntaphentes (συνταφέντες) “sepultados com”, dia tēs pisteōs (διὰ τῆς πίστεως) “mediante a fé”.  

Refutação credobatista: o batismo é aplicado a quem exerce fé, não a quem ainda não crê.

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1 Coríntios 7:14 — “filhos santos”

“Porque o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente; doutra sorte, os vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são santos.”  

hēgiastai (ἡγίασται) “foi santificado”, hagioi (ἅγιοι) “santos, separados”.  

Refutação credobatista: santidade relacional, não regeneração ou inclusão automática na Nova Aliança.

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Marcos 10:13-16 — Jesus e as crianças

“Então, lhe trouxeram algumas crianças para que as tocasse; mas os discípulos os repreendiam. Jesus, porém, vendo isto, indignou-se e disse-lhes: Deixai vir a mim os pequeninos, não os impeçais, porque dos tais é o reino de Deus. Em verdade vos digo: quem não receber o reino de Deus como uma criança, de maneira nenhuma entrará nele. Então, tomando-as nos braços e impondo-lhes as mãos, as abençoava.”  

paidia (παιδία) “crianças”, eulogei (εὐλόγει) “abençoava”, tōn toioutōn (τῶν τοιούτων) “dos tais”.  

Refutação credobatista: Jesus abençoa, mas não batiza; o Reino exige novo nascimento (João 3:3-5).

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Exegese positiva: o que o batismo significa no NT

- Romanos 6:3-4 — baptisthēmen (ἐβαπτίσθημεν) “fomos batizados”, sunetaphēmen (συνετάφημεν) “fomos sepultados com”; simboliza união com Cristo em sua morte e ressurreição.  

- Mateus 28:19-20 — mathēteusate (μαθητεύσατε) “fazei discípulos”, baptizontes (βαπτίζοντες) “batizando”; a ordem de Jesus estabelece que o batismo é subsequente ao discipulado iniciado pela fé.  

- Marcos 16:16 — pisteusās (πιστεύσας) “quem crer”, baptisthē (βαπτισθῇ) “for batizado”; a fé é condição prévia para o batismo.  

- Atos 2:41; 8:12; 18:8 — sequência invariável: akouō (ἀκούω) “ouvir” → pisteuō (πιστεύω) “crer” → baptizō (βαπτίζω) “batizar”.

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Teólogos e fontes reformadas que defendem o credobatismo

- John Piper — Pastor batista reformado, Piper afirma: “O batismo é uma expressão externa e simbólica de uma realidade interna de fé. No Novo Testamento, o batismo sempre segue a fé pessoal e consciente” (Brothers, We Are Not Professionals, Crossway, 2013). Para ele, aplicar o batismo antes da fé distorce o seu significado bíblico.

- D.A. Carson — Teólogo e professor do Novo Testamento, Carson escreve: “Não há evidência conclusiva no Novo Testamento de que o batismo tenha sido administrado a quem não professou fé” (Understanding Baptism, The Gospel Coalition, 2015). Ele enfatiza que a prática apostólica liga o batismo à conversão.

- Confissão Batista de 1689 — Documento histórico da tradição batista reformada, declara no Capítulo 29: “O batismo é ordenança do Novo Testamento, instituída por Jesus Cristo, para ser para a pessoa batizada um sinal de sua comunhão com Ele, na Sua morte e ressurreição, de estar enxertado nEle, da remissão dos pecados, e de se entregar a Deus por meio de Jesus Cristo, para viver e andar em novidade de vida. Esta ordenança é para ser administrada apenas àqueles que realmente professam arrependimento para com Deus e fé em nosso Senhor Jesus Cristo.”

- Micah e Samuel Renihan — Representantes da teologia pactual batista, defendem que: “A Nova Aliança é composta apenas de membros regenerados, e por isso o sinal da aliança — o batismo — deve ser aplicado somente àqueles que demonstram fé” (The Mystery of Christ, His Covenant, and His Kingdom, Founders Press, 2019). Eles mostram que, diferentemente da Antiga Aliança, a Nova não inclui membros não regenerados por nascimento físico.

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Conclusão

Se a “doutrina dos apóstolos” é nosso norte, duas exigências se impõem:  

1. Praticar aquilo que os apóstolos ordenaram e exemplificaram.  

2. Não impor como norma eclesial o que eles não ensinaram.

O credobatismo satisfaz ambas, porque:  

- Segue a ordem apostólica: ouvir → crer → batizar.  

- Honra o significado do batismo: sinal de união consciente com Cristo, “mediante a fé”.  

- Mantém a coerência com a igreja edificada pelo ensino apostólico.

Já o pedobatismo, sem preceito apostólico e sem exemplo inequívoco, reivindica para si uma autoridade que o NT não concede — o que o torna incoerente com a própria regra apostólica que todos afirmamos seguir.

Pr. Niger Martins

Pr. Presidente das Igrejas de Nova Vida - É De Deus